A Evolução do Papel do CRO nas Instituições Financeiras, por Aníbal Codina

Nos últimos anos, a gestão de riscos nas instituições financeiras passou por transformações significativas. O papel do Chief Risk Officer (CRO), antes focado majoritariamente no controle de enquadramento em limites e conformidade, tornou-se mais estratégico e integrado à gestão das decisões de negócios.

Para ilustrar essa evolução, Aníbal Codina, Especialista de Risco, Liquidez, Capital e ALM na MAPS, analisa um ponto específico da pesquisa “Agility in Volatility: Rebalancing CRO Priorities in a Shifting Risk Matrix – 14th Annual EY/IIF Global Bank Risk Management Survey” (link no final), publicada recentemente pela EY e pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF). Ele explica a relação entre esse dado e dois acontecimentos do passado, proporcionando uma melhor compreensão da evolução do papel das áreas de risco nas instituições financeiras.

A Visão da Pesquisa: Um Papel Mais Consultivo para os CROs

Um dos aspectos mais relevantes do estudo está na Figura 27, que exibe a frequência das respostas à pergunta:

 

“Em quais áreas você enxerga a evolução do papel do CRO nos próximos três anos?”

Dentre as respostas, um destaque:

  • Tornar-se um conselheiro para as áreas de negócios na prevenção da materialização dos riscos: 50%

Sobre esse dado, Aníbal faz uma reflexão:

“Creio que muitos leitores talvez se perguntem se esse papel já não deveria estar sendo plenamente desempenhado em 2025, em 100% das instituições, pois, em princípio, pareceria claro e lógico que o CRO (e a área de riscos) contribuam nessa prevenção. Vamos analisar duas situações que ajudarão a esclarecer essa dúvida.”

O Passado: A Área de Riscos Como um Setor Exclusivamente de Controle

A primeira situação foi relatada por um colega experiente em riscos. Segundo ele, na década de 1990, ao implementar a área de riscos no banco onde trabalhava — uma instituição agressiva na tomada de riscos de mercado —, enfrentou grande resistência. O responsável pelas mesas de operações, para demonstrar seu descontentamento, chegava a amassar e jogar fora os relatórios que traziam as posições da mesa assim que os recebia.

Já a segunda situação ocorreu no próprio banco onde Aníbal trabalhava, aproximadamente na mesma época. O responsável pela área de Risco de Mercado descobriu que a área de controle e contabilização das posições com contratos de opções utilizava, como insumo, valores de volatilidades implícitas fornecidos pela própria mesa que operava essas opções, sem nenhuma checagem independente. O resultado foi um prejuízo que ainda não havia sido detectado — e o responsável pela descoberta recebeu uma bonificação financeira pelo achado.

“O ponto é que, nos primórdios, as áreas de risco dos bancos eram vistas, especialmente pelas áreas de negócios, como setores que ‘só atrapalham, só geram custos, não deixam a gente ganhar dinheiro’ ou que ‘só aparecem quando alguém excede um limite’. As duas situações acima evidenciam que, definitivamente, não existia nenhuma integração colaborativa entre as áreas de riscos e as áreas de negócios.”

A transformação impulsionada pela governança integrada

Um marco na evolução da governança de riscos no Brasil foi a Resolução CMN 4557 de 2017, também conhecida como Gestão Integrada de Riscos (GIR). Antes da publicação dessa norma, era comum que instituições financeiras possuíssem diferentes diretorias de risco, sem uma estrutura integrada e sem um CRO unificando a visão global dos riscos. Com isso, limites, controles e cenários de estresse — quando existiam — eram conduzidos isoladamente por cada diretoria, sem a percepção das interconexões e retroalimentações entre os diferentes riscos.

Os dados mais recentes da pesquisa da EY e do IIF indicam que essa realidade está em mudança. Se os objetivos apontados no estudo forem atingidos, os 50% dos CROs que ainda não atuam como conselheiros das áreas de negócios passarão a desempenhar essa função nos próximos anos. Quanto aos demais, é possível que grande parte já tenha alcançado esse nível de maturidade.

“Claramente, em um contexto de mudanças tecnológicas, geopolíticas, ambientais, climáticas e regulatórias, como o atual, existe uma tendência de ganhos significativos de desempenho geral com uma maior integração colaborativa entre as áreas de risco e as áreas de negócios. O que hoje parece claro nem sempre foi assim.”

A evolução do papel do CRO, evidenciada na pesquisa, demonstra a incorporação de novos tipos de riscos, mantendo suas atribuições de controle, mas agregando responsabilidades de suporte à gestão de negócios. Esse movimento reflete a necessidade crescente de visão estratégica na gestão e no controle de riscos.

À medida que os desafios do setor financeiro se tornam mais complexos, é essencial que esses profissionais se posicionem como aliados na tomada de decisão e na prevenção de riscos. A colaboração entre as áreas e o uso de tecnologias para aprimorar a análise e mitigação de riscos serão fundamentais para o sucesso das instituições nos próximos anos.

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Para acessar a pesquisa completa da EY e do IIF, clique aqui: https://www.ey.com/content/dam/ey-unified-site/ey-com/en-gl/insights/banking-capital-markets/documents/ey-and-institute-of-international-finance-bank-risk-management-survey-02-2025.pdf.